segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O bode expiatório, por Paulo Guedes


Paulo Guedes, O Globo
De onde menos se espera... é que não vem nada mesmo. Sim, estou falando dos votos de Lewandowski. Por seu conhecimento especializado, um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) tem o direito de votar como bem entender no julgamento do Mensalão.
Mas nós, cidadãos, desprovidos desse conhecimento, temos também o direito à nossa interpretação quanto ao que está fazendo o ministro.
Lewandowski absolveu toda a cúpula dirigente do PT envolvida no escândalo de corrupção: o ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, o ex-presidente do partido, José Genoino, e o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
Confirmaram-se as piores suspeitas levantadas pelo arguto observador político Merval Pereira, ainda no início do histórico julgamento: “De minha parte, espero ter me precipitado ao afirmar que Lewandowski agia de modo a ajudar os réus políticos, especialmente os petistas. Vamos aguardar para ver como distribuirá sua justiça.”
Não, meu caro Merval, você não se precipitou. Apenas avaliou corretamente os primeiros indícios da atuação do ministro.
Temos os mais legítimos interesses no aperfeiçoamento de nossas instituições democráticas. O julgamento do Mensalão é um momento decisivo nesse processo. Com a condenação de representantes do Executivo pela compra de apoio parlamentar, os ministros do STF demarcam agora a independência do Poder Judiciário. É um passo importante para a erradicação de degeneradas práticas políticas.
Lewandowski admitiu que “houve crimes graves, e quem os cometeu vai ter de pagar”. Condenou publicitários, banqueiros e políticos dos demais partidos como corruptos e corruptores.
Mas, no Mensalão, o que nos interessa é o julgamento de um atentado contra a independência dos poderes de um regime democrático. Aqui reside a questão fundamental de interesse público: a condenação da compra de apoio parlamentar pelo antigo núcleo político do governo.
Os votos de Lewandowski transformam-se, portanto, numa brutal, expiatória e inverossímil acusação ao tesoureiro Delúbio Soares, tornando-o inteiramente responsável por toda a condenável manobra de articulação suprapartidária ora em julgamento. Prevalece a forma sobre o conteúdo.
Mas quem vai julgar Lewandowski é a História de uma Grande Sociedade Aberta em construção.

2 comentários:

Castelo disse...

Ele se sairia bem melhor e de forma mais coerente se tivesse atuando como advogado de defesa, na época certa, claro.


La Mère Supérieure disse...

ele é da escumalha do PT.
De onde menos se espera... é que não vem nada mesmo.
Não poderia esperar outra coisa.